Acesso às tecnologias da informação e comunicação
Durante a visita à biblioteca pública de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro, em Agosto de 2012, foi observado pela primeira vez algo que seria encontrado com frequência nas mais ricas bibliotecas visitadas durante a pesquisa: em um ambiente lindo, amplo e agradável, adolescentes e crianças usavam computadores para jogar e estar em redes sociais, enquanto o acervo de livros permanecia nas estantes despertando pouco ou nenhum interesse. O desafio reconhecido por vários coordenadores de bibliotecas está em como envolver estes jovens usuários, que já se encontram dentro da biblioteca, com atividades que desenvolvam suas habilidades de leitura e escrita, ou com atividades relacionadas às demais missões da biblioteca.
Os dados captados junto a coordenadores de Sistemas Estaduais de Bibliotecas, durante o Encontro do SNBP em Setembro de 2012, revelam que na maioria dos estados o uso de tecnologia por parte dos usuários costuma limitar-se ao acesso livre a Internet, sem integração da tecnologia nos demais serviços oferecidos pela Biblioteca Pública.
As bibliotecas públicas brasileiras que oferecem acesso a computadores e internet em geral possuem computadores cedidos pela Secretaria de Ciência e Tecnologia ou empresa de processamento de dados do estado ou município. Os funcionários que controlam o uso dos equipamentos são formados por esta Secretaria e muitas vezes são também vinculados (remunerados) por este departamento de governo. Em várias cidades o espaço equipado com computadores é isolado dos demais ambientes da biblioteca e denominado telecentro, é o caso de Piracicaba (SP), Porto Alegre – Restinga (RS), Epitaciolandia (AC), Porto Acre (AC) e todas as bibliotecas visitadas no estado da Bahia.
A desconexão entre as ações da biblioteca e o uso dos computadores instalados dentro dela, é entendida como resultado da soma de políticas públicas distintas. Os programas brasileiros destinados a inclusão digital são gerenciados na instância federal pelo Ministério das Comunicações e Ministério do Planejamento como é o caso do programa Telecentros BR[1] . Nas instâncias estaduais e municipais as Secretarias de Ciência e Tecnologia ou departamentos administrativos do governo coordenam programas como o Acessa São Paulo[2] e o Floresta Digital[3] (AC) .
Além de fornecerem os kits de equipamentos e conexão, estes órgãos de governo são responsáveis pela formação das pessoas que supervisionam e facilitam o uso dos equipamentos. Estas formações possuem caráter técnico e objetivam capacitar o funcionário para que este possa supervisionar o uso dos equipamentos e também auxiliar usuários com pouco conhecimento em informática.
Os funcionários responsáveis pela supervisão do uso de computadores trabalham de forma independente da equipe da biblioteca; geralmente eles desconhecem as frequentes ações da biblioteca para promoção da leitura, memória local, cultura entre outros.
Em Piracicaba (SP), por exemplo, a biblioteca oferece acesso a computadores e internet através do programa Acessa São Paulo, os monitores são funcionários ou estagiários da biblioteca mas recebem formação através do programa Acessa São Paulo. Não foi observado, nem identificado através de entrevistas e questionários evidências de que esses monitores trabalhem com a promoção da leitura nem estimulem a busca de informações. As ações desenvolvidas pela equipe da biblioteca não utilizam o espaço nem os equipamentos do telecentro, embora este esteja inserido no coração da mesma. Não há integração alguma, as crianças que participam de oficinas não fazem consultas nem criações com uso de tecnologia.
Na Biblioteca do Estado de São Paulo os equipamentos estão integrados ao ambiente da biblioteca e existe uma equipe com formação para acolher os usuários dentro do conceito de “biblioteca parque”, ainda assim o uso da informática acontece sem conexão com a programação da biblioteca. A equipe oferece uma série de atividades para as crianças e jovens como oficinas de desenho e trabalhos manuais com a reconstrução de personagens e outras atividades relacionadas a literatura, mas a orientação no uso dos computadores se restringe a sugestão de alguns jogos educativos, sem ligação aos livros que estão sendo trabalhados. Assim como nas demais bibliotecas visitadas não existe oficina para autoria ou criação a partir das tecnologias digitais.
Já no Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo, entre as 57 bibliotecas subordinadas à Coordenadoria de Bibliotecas, 29 possuem telecentros instalados por outra secretaria do município. A coordenadora do sistema municipal informou que as ações destes telecentros não são coordenadas pelas bibliotecas, nem se relacionam coma a Coordenadoria de Bibliotecas, eles funcionam de maneira independente e incluem em suas atividades alguns cursos de informática básica.
A possibilidade de acessar via Internet o catálogo do acervo do sistema municipal de bibliotecas de São Paulo é um fator que, segundo as coordenadoras do sistema, amplia a quantidade de empréstimos e a circulação do acervo em geral.
Também no Acre os computadores e o acesso a internet são supridos por Secretaria Estadual a parte. A formação e o sustento dos funcionários que operam os equipamentos são de responsabilidade do departamento de tecnologia ou administração do governo e não contribuem para integração de tecnologia nas ações da biblioteca pública.
A Biblioteca do Estado da Bahia conta com um telecentro em sala localizada no prédio da Biblioteca, mas com entrada externa funcionando com funcionário remunerado pela biblioteca mas treinado e supervisionado pela secretaria responsável pelo telecentro. Na área de empréstimo aos leitores não é permitido circular entre as estantes do acervo, nem mesmo usar os computadores destinados a consulta no acervo. Cinco computadores ficam atrás do balcão e podem ser acessados somente por funcionários. O usuário pode pesquisar em casa ou em outro ponto de acesso a Internet o livro desejado no catálogo digitalizado disponível on-line, porém se ele estiver na área de empréstimo da biblioteca ele precisará pedir a um funcionário que pesquise para ele, ou se deslocar até o telecentro (localizado no lado oposto do prédio) solicitar acesso a um computador, para então pesquisar no catálogo disponível online.
Em Porto Alegre a Biblioteca Municipal Josué Guimarães optou por instalar na biblioteca filial, localizada no bairro Restinga, o telecentro que obteve. Este equipamento opera de maneira totalmente independente da biblioteca. A gestora da biblioteca informou que o telecentro não é aberto para uso livre, os equipamentos são destinados inteiramente para cursos organizados pela empresa de tecnologia do governo municipal, enquanto a biblioteca se destaca por ações voltadas para estímulo a leitura para as crianças e jovens.
Na Biblioteca do Estado do Acre, ao circular pelos espaços de uso de tecnologia e observar as telas dos equipamentos em uso a pesquisadora observou que pouco mais da metade dos usuários estava em redes sociais, os demais em usos diversos variando de pesquisas em sites de conteúdo a edição de textos, um pequeno grupo de jovens usuários usava sites de jogos.
A pesquisadora desenvolveu no final das entrevistas com coordenadores de bibliotecas e representantes de governo, uma conversa complementar quando mencionava possibilidades de integração de tecnologia a atividades existentes nas bibliotecas. Entre outras, a pesquisadora apresentou a possibilidade de que crianças e demais participantes de oficinas de promoção de leitura usassem os computadores para representação de personagens, produção de história em quadrinhos, animações, textos colaborativos, gravação de áudio, trabalhos com imagens, etc. Os gestores de biblioteca e coordenadores de sistema manifestaram apreciação pela possibilidade, mas destacaram a necessidade de que suas equipes recebam formações específicas para tais usos de tecnologia. bemalume
Esta formação específica constitui-se no grande desafio para as bibliotecas brasileiras darem o salto para a era digital. O problema acontece porque a área técnica dos governos, hoje responsável pela formação dos monitores de telecentros, desconhece as aplicações culturais da tecnologia e as diversas missões da biblioteca pública, e boa parte das lideranças da área de biblioteconomia ainda ignora as possíveis aplicações de tecnologia nas missões das bibliotecas públicas.
Considerando que a maioria dos usuários de computadores e wifi em bibliotecas públicas utiliza os equipamentos em atividades não relacionadas a programação ou serviços da bibliotecas, aplicamos questionários para conhecer os hábitos destes usuários. As bibliotecas visitadas apresentaram claramente dois perfis distintos de usuários, um deles costuma se deslocar a biblioteca para usar computadores e acessar a internet, o outro perfil visita a biblioteca para retirar livros, fazer consulta local ou usar o espaço de leitura para estudar com material próprio. Durante a testagem dos instrumentos foi constatado que estes perfis de usuários apresentam hábitos distintos, desta forma optou-se pela criação de três categorias distintas de usuários para facilitar a análise dos dados da pesquisa, são elas:
1 – usuários abordados na área de computadores
2 – usuários abordados na área de leitura,
3 – usuários abordado em trânsito.
1 Entrevistados abordados na área de computadores Entre os 15 usuários entrevistados na área de uso de computadores, enquanto usavam ou esperavam para usar computadores, todos afirmaram que usam tecnologia todas as vezes que visitam a biblioteca ( vão a biblioteca com este propósito); apenas quatro afirmaram que usam o empréstimo de livros sempre ou quase sempre que vão a biblioteca. Entre os 15 usuários de computadores da biblioteca, apenas um afirmou que usa o espaço de leitura da biblioteca para consultas locais ou estudo com material próprio; dois costumam frequentar a seção de periódicos e um usa os serviços do setor infantil para deixar os filhos enquanto ela utiliza o computador e acessa internet. A maior parte dos integrantes deste grupo (7) tem menos que 19 anos e ainda não completou o ensino médio (10).
10 entre os 15 usuários abordados na área de computadores declararam que vieram à biblioteca para usar tecnologia porque aquele era o único local para acesso a computadores ou internet nas redondezas. O fato da internet ser gratuita foi destacado por 11 entre 15 usuários que apontaram também “o local ser seguro e acolhedor” como fator muito importante para escolha do local. Este grupo tem na Internet o principal veículo para acesso a informação, sendo TV, amigos e familiares e jornais as fontes de informação usadas com mais frequência em ordem decrescente.
Quando questionados se buscam informações na biblioteca pública, 11 entre os 15 respondentes deste grupo disseram que sim. Entre os 11 todos usam internet, 4 usam jornais ou revistas e 3 usam livros como fonte de informação.
A metade dos usuários deste grupo não possui computador ou tablet nem celular tipo smart phone. Entre os 7 usuários que possuem dispositivos digitais 5 possuem computadores de mesa, 5 possuem laptops e 4 possuem smart phone. Entre os 7 que possuem dispositivos próprios, 5 acessam a internet em casa com banda larga, um usa conexão 3G e 4 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi.
Quando perguntados qual o principal motivo para usar tecnologia em pontos públicos de acesso a informação, a maioria dos usuários deste grupo (8) afirmou que não tem outro local para acessar a internet, seguido por 5 que responderam não ter outra opção par acessar computadores.
Quando usa computadores este grupo costuma navegar na internet, ver fotos de amigos, usar redes sociais, bater papo e assistir vídeos (ordem decrescente de frequência). Os motivos mais comuns que leva este grupo de usuários a usar computadores ( tanto na biblioteca como fora dela) são manter a comunicação entre amigos e familiares e desenvolver atividades de lazer ou hobbies. Dados que combinam com os resultados da pesquisa Global Impact Study (2013) conduzida em 2010 no Brasil entre usuários de pontos públicos de acesso a TICS.
2 Usuários abordados na área de leitura Treze usuários foram entrevistados na área de leitura enquanto estudavam com material próprio, utilizavam o acervo da biblioteca, ou usavam seu próprio laptop. Onze usuários deste grupo declararam que o serviço que mais usam na biblioteca é a internet wifi e o local de estudos/leitura. Impressionante é a resposta deste grupo em relação ao uso do serviço empréstimo, somente 2 entre 13 usuários responderam que quase sempre que visitam a biblioteca retiram um livro emprestado, um usuário o faz as vezes e os demais 9 nunca pegam livros emprestados.
Nove usuários abordados na área de leitura usam tecnologia na biblioteca e 4 não. O motivo pelo qual escolheu a biblioteca para usar tecnologia no dia da entrevista foi para 8 deles, o fato do local ser seguro e acolhedor, 7 afirmaram que ser um serviço gratuito também era muito importante e 6 apontaram ser perto de casa ou que estava próximo a biblioteca no momento que resolveu usar tecnologia.
Em relação a busca de informações em geral em suas vidas, os usuários abordados na área de leitura buscam informações prioritariamente na internet, ficando a TV em segundo lugar. Entre os 13 integrantes deste grupo, 11afirmaram que buscam informações na biblioteca, oito deles via internet, seis através de livros e apenas um em jornais e revistas.
Todos os usuários deste grupo possuem computador, 11 deles possuem laptops, 9 possuem celular tipo smart phone, 5 computador de mesa, e 2 possuem tablet. Entre eles 10 possuem conexão banda larga para internet em suas residências, 4 usam conexão 3G e 10 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi (bibliotecas, telecentros, cibercafés ou lanhouses).
Quando usa computadores (em qualquer local) o grupo de usuários abordados na área de leitura da biblioteca costuma navegar na internet, usar redes sociais, enviar email e redigir ou editar textos (ordem decrescente de frequência). Os motivos mais comuns que levam estes usuários a usar computadores (tanto na biblioteca como fora dela) são realizar ações relacionadas a educação (todos) , manter comunicação com familiares e amigos (11), bem como desenvolver competências necessárias para conseguir trabalho ou progredir profissionalmente (10). Interessante notar como o ambiente e a conexão wifi são, para este grupo, bem mais importantes do que o acervo oferecido pela biblioteca.
A maior parte dos integrantes deste grupo (9 ) possui entre 20 e 34 anos . Cinco usuários do grupo já completaram curso superior e outros 7 completaram o ensino médio, sendo apenas um entre os 13 usuários deste grupo possuía apenas o fundamental completo.
3 Usuários abordados em trânsito pela biblioteca Onze usuários foram entrevistados enquanto transitavam pela biblioteca. Para este grupo o serviço da biblioteca mais utilizado é o empréstimo de livros, seguido por uso de computadores e internet e pela busca de orientação junto a equipe da biblioteca . Entre eles 7 utilizam tecnologia na biblioteca e 4 não.
Entre estes 7 usuários os motivos pelos quais escolheram a biblioteca para usar tecnologia no dia da entrevista foram o horário de funcionamento conveniente, fica perto de casa ou de onde eles estava no momento que precisava ou desejava usar tecnologia e ainda por que o lugar é acolhedor e seguro.
Em relação a busca de informações em geral em suas vidas, estes usuários buscam prioritariamente na TV e Internet seguidos por livro e jornais. Dentro da biblioteca pública estes usuários buscam informações na maioria das vezes na internet ou livros (8) seguido por revistas, documentos e enciclopédias e jornais.
Nove entre onze usuários deste grupo possui computador sendo que 6 usuários possuem laptop, 5 desktops, 4 celulares tipo smart phone e 2 possuem tablets. Entre eles apenas 2 possuem conexão banda larga para internet em suas residências, 3 usam conexão 3G e 4 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi (bibliotecas, telecentros ou cibercafés ou lanhouses).
Quando usa computadores ( em qualquer local) este grupo costuma desenvolver atividades relacionadas a educação, desenvolver competência para conseguir trabalho ou progredir profissionalmente seguido por desenvolver atividades de lazer ou hobby.
Este grupo de usuários pertence a uma faixa etária variada sendo seis deles na faixa etária entre 25 e 49 anos e 4 com menos de 25 anos . Dois deles já completaram curso superior e outros 6 completaram o ensino médio.
Os dados captados junto a coordenadores de Sistemas Estaduais de Bibliotecas, durante o Encontro do SNBP em Setembro de 2012, revelam que na maioria dos estados o uso de tecnologia por parte dos usuários costuma limitar-se ao acesso livre a Internet, sem integração da tecnologia nos demais serviços oferecidos pela Biblioteca Pública.
As bibliotecas públicas brasileiras que oferecem acesso a computadores e internet em geral possuem computadores cedidos pela Secretaria de Ciência e Tecnologia ou empresa de processamento de dados do estado ou município. Os funcionários que controlam o uso dos equipamentos são formados por esta Secretaria e muitas vezes são também vinculados (remunerados) por este departamento de governo. Em várias cidades o espaço equipado com computadores é isolado dos demais ambientes da biblioteca e denominado telecentro, é o caso de Piracicaba (SP), Porto Alegre – Restinga (RS), Epitaciolandia (AC), Porto Acre (AC) e todas as bibliotecas visitadas no estado da Bahia.
A desconexão entre as ações da biblioteca e o uso dos computadores instalados dentro dela, é entendida como resultado da soma de políticas públicas distintas. Os programas brasileiros destinados a inclusão digital são gerenciados na instância federal pelo Ministério das Comunicações e Ministério do Planejamento como é o caso do programa Telecentros BR[1] . Nas instâncias estaduais e municipais as Secretarias de Ciência e Tecnologia ou departamentos administrativos do governo coordenam programas como o Acessa São Paulo[2] e o Floresta Digital[3] (AC) .
Além de fornecerem os kits de equipamentos e conexão, estes órgãos de governo são responsáveis pela formação das pessoas que supervisionam e facilitam o uso dos equipamentos. Estas formações possuem caráter técnico e objetivam capacitar o funcionário para que este possa supervisionar o uso dos equipamentos e também auxiliar usuários com pouco conhecimento em informática.
Os funcionários responsáveis pela supervisão do uso de computadores trabalham de forma independente da equipe da biblioteca; geralmente eles desconhecem as frequentes ações da biblioteca para promoção da leitura, memória local, cultura entre outros.
Em Piracicaba (SP), por exemplo, a biblioteca oferece acesso a computadores e internet através do programa Acessa São Paulo, os monitores são funcionários ou estagiários da biblioteca mas recebem formação através do programa Acessa São Paulo. Não foi observado, nem identificado através de entrevistas e questionários evidências de que esses monitores trabalhem com a promoção da leitura nem estimulem a busca de informações. As ações desenvolvidas pela equipe da biblioteca não utilizam o espaço nem os equipamentos do telecentro, embora este esteja inserido no coração da mesma. Não há integração alguma, as crianças que participam de oficinas não fazem consultas nem criações com uso de tecnologia.
Na Biblioteca do Estado de São Paulo os equipamentos estão integrados ao ambiente da biblioteca e existe uma equipe com formação para acolher os usuários dentro do conceito de “biblioteca parque”, ainda assim o uso da informática acontece sem conexão com a programação da biblioteca. A equipe oferece uma série de atividades para as crianças e jovens como oficinas de desenho e trabalhos manuais com a reconstrução de personagens e outras atividades relacionadas a literatura, mas a orientação no uso dos computadores se restringe a sugestão de alguns jogos educativos, sem ligação aos livros que estão sendo trabalhados. Assim como nas demais bibliotecas visitadas não existe oficina para autoria ou criação a partir das tecnologias digitais.
Já no Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo, entre as 57 bibliotecas subordinadas à Coordenadoria de Bibliotecas, 29 possuem telecentros instalados por outra secretaria do município. A coordenadora do sistema municipal informou que as ações destes telecentros não são coordenadas pelas bibliotecas, nem se relacionam coma a Coordenadoria de Bibliotecas, eles funcionam de maneira independente e incluem em suas atividades alguns cursos de informática básica.
A possibilidade de acessar via Internet o catálogo do acervo do sistema municipal de bibliotecas de São Paulo é um fator que, segundo as coordenadoras do sistema, amplia a quantidade de empréstimos e a circulação do acervo em geral.
Também no Acre os computadores e o acesso a internet são supridos por Secretaria Estadual a parte. A formação e o sustento dos funcionários que operam os equipamentos são de responsabilidade do departamento de tecnologia ou administração do governo e não contribuem para integração de tecnologia nas ações da biblioteca pública.
A Biblioteca do Estado da Bahia conta com um telecentro em sala localizada no prédio da Biblioteca, mas com entrada externa funcionando com funcionário remunerado pela biblioteca mas treinado e supervisionado pela secretaria responsável pelo telecentro. Na área de empréstimo aos leitores não é permitido circular entre as estantes do acervo, nem mesmo usar os computadores destinados a consulta no acervo. Cinco computadores ficam atrás do balcão e podem ser acessados somente por funcionários. O usuário pode pesquisar em casa ou em outro ponto de acesso a Internet o livro desejado no catálogo digitalizado disponível on-line, porém se ele estiver na área de empréstimo da biblioteca ele precisará pedir a um funcionário que pesquise para ele, ou se deslocar até o telecentro (localizado no lado oposto do prédio) solicitar acesso a um computador, para então pesquisar no catálogo disponível online.
Em Porto Alegre a Biblioteca Municipal Josué Guimarães optou por instalar na biblioteca filial, localizada no bairro Restinga, o telecentro que obteve. Este equipamento opera de maneira totalmente independente da biblioteca. A gestora da biblioteca informou que o telecentro não é aberto para uso livre, os equipamentos são destinados inteiramente para cursos organizados pela empresa de tecnologia do governo municipal, enquanto a biblioteca se destaca por ações voltadas para estímulo a leitura para as crianças e jovens.
Na Biblioteca do Estado do Acre, ao circular pelos espaços de uso de tecnologia e observar as telas dos equipamentos em uso a pesquisadora observou que pouco mais da metade dos usuários estava em redes sociais, os demais em usos diversos variando de pesquisas em sites de conteúdo a edição de textos, um pequeno grupo de jovens usuários usava sites de jogos.
A pesquisadora desenvolveu no final das entrevistas com coordenadores de bibliotecas e representantes de governo, uma conversa complementar quando mencionava possibilidades de integração de tecnologia a atividades existentes nas bibliotecas. Entre outras, a pesquisadora apresentou a possibilidade de que crianças e demais participantes de oficinas de promoção de leitura usassem os computadores para representação de personagens, produção de história em quadrinhos, animações, textos colaborativos, gravação de áudio, trabalhos com imagens, etc. Os gestores de biblioteca e coordenadores de sistema manifestaram apreciação pela possibilidade, mas destacaram a necessidade de que suas equipes recebam formações específicas para tais usos de tecnologia. bemalume
Esta formação específica constitui-se no grande desafio para as bibliotecas brasileiras darem o salto para a era digital. O problema acontece porque a área técnica dos governos, hoje responsável pela formação dos monitores de telecentros, desconhece as aplicações culturais da tecnologia e as diversas missões da biblioteca pública, e boa parte das lideranças da área de biblioteconomia ainda ignora as possíveis aplicações de tecnologia nas missões das bibliotecas públicas.
Considerando que a maioria dos usuários de computadores e wifi em bibliotecas públicas utiliza os equipamentos em atividades não relacionadas a programação ou serviços da bibliotecas, aplicamos questionários para conhecer os hábitos destes usuários. As bibliotecas visitadas apresentaram claramente dois perfis distintos de usuários, um deles costuma se deslocar a biblioteca para usar computadores e acessar a internet, o outro perfil visita a biblioteca para retirar livros, fazer consulta local ou usar o espaço de leitura para estudar com material próprio. Durante a testagem dos instrumentos foi constatado que estes perfis de usuários apresentam hábitos distintos, desta forma optou-se pela criação de três categorias distintas de usuários para facilitar a análise dos dados da pesquisa, são elas:
1 – usuários abordados na área de computadores
2 – usuários abordados na área de leitura,
3 – usuários abordado em trânsito.
1 Entrevistados abordados na área de computadores Entre os 15 usuários entrevistados na área de uso de computadores, enquanto usavam ou esperavam para usar computadores, todos afirmaram que usam tecnologia todas as vezes que visitam a biblioteca ( vão a biblioteca com este propósito); apenas quatro afirmaram que usam o empréstimo de livros sempre ou quase sempre que vão a biblioteca. Entre os 15 usuários de computadores da biblioteca, apenas um afirmou que usa o espaço de leitura da biblioteca para consultas locais ou estudo com material próprio; dois costumam frequentar a seção de periódicos e um usa os serviços do setor infantil para deixar os filhos enquanto ela utiliza o computador e acessa internet. A maior parte dos integrantes deste grupo (7) tem menos que 19 anos e ainda não completou o ensino médio (10).
10 entre os 15 usuários abordados na área de computadores declararam que vieram à biblioteca para usar tecnologia porque aquele era o único local para acesso a computadores ou internet nas redondezas. O fato da internet ser gratuita foi destacado por 11 entre 15 usuários que apontaram também “o local ser seguro e acolhedor” como fator muito importante para escolha do local. Este grupo tem na Internet o principal veículo para acesso a informação, sendo TV, amigos e familiares e jornais as fontes de informação usadas com mais frequência em ordem decrescente.
Quando questionados se buscam informações na biblioteca pública, 11 entre os 15 respondentes deste grupo disseram que sim. Entre os 11 todos usam internet, 4 usam jornais ou revistas e 3 usam livros como fonte de informação.
A metade dos usuários deste grupo não possui computador ou tablet nem celular tipo smart phone. Entre os 7 usuários que possuem dispositivos digitais 5 possuem computadores de mesa, 5 possuem laptops e 4 possuem smart phone. Entre os 7 que possuem dispositivos próprios, 5 acessam a internet em casa com banda larga, um usa conexão 3G e 4 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi.
Quando perguntados qual o principal motivo para usar tecnologia em pontos públicos de acesso a informação, a maioria dos usuários deste grupo (8) afirmou que não tem outro local para acessar a internet, seguido por 5 que responderam não ter outra opção par acessar computadores.
Quando usa computadores este grupo costuma navegar na internet, ver fotos de amigos, usar redes sociais, bater papo e assistir vídeos (ordem decrescente de frequência). Os motivos mais comuns que leva este grupo de usuários a usar computadores ( tanto na biblioteca como fora dela) são manter a comunicação entre amigos e familiares e desenvolver atividades de lazer ou hobbies. Dados que combinam com os resultados da pesquisa Global Impact Study (2013) conduzida em 2010 no Brasil entre usuários de pontos públicos de acesso a TICS.
2 Usuários abordados na área de leitura Treze usuários foram entrevistados na área de leitura enquanto estudavam com material próprio, utilizavam o acervo da biblioteca, ou usavam seu próprio laptop. Onze usuários deste grupo declararam que o serviço que mais usam na biblioteca é a internet wifi e o local de estudos/leitura. Impressionante é a resposta deste grupo em relação ao uso do serviço empréstimo, somente 2 entre 13 usuários responderam que quase sempre que visitam a biblioteca retiram um livro emprestado, um usuário o faz as vezes e os demais 9 nunca pegam livros emprestados.
Nove usuários abordados na área de leitura usam tecnologia na biblioteca e 4 não. O motivo pelo qual escolheu a biblioteca para usar tecnologia no dia da entrevista foi para 8 deles, o fato do local ser seguro e acolhedor, 7 afirmaram que ser um serviço gratuito também era muito importante e 6 apontaram ser perto de casa ou que estava próximo a biblioteca no momento que resolveu usar tecnologia.
Em relação a busca de informações em geral em suas vidas, os usuários abordados na área de leitura buscam informações prioritariamente na internet, ficando a TV em segundo lugar. Entre os 13 integrantes deste grupo, 11afirmaram que buscam informações na biblioteca, oito deles via internet, seis através de livros e apenas um em jornais e revistas.
Todos os usuários deste grupo possuem computador, 11 deles possuem laptops, 9 possuem celular tipo smart phone, 5 computador de mesa, e 2 possuem tablet. Entre eles 10 possuem conexão banda larga para internet em suas residências, 4 usam conexão 3G e 10 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi (bibliotecas, telecentros, cibercafés ou lanhouses).
Quando usa computadores (em qualquer local) o grupo de usuários abordados na área de leitura da biblioteca costuma navegar na internet, usar redes sociais, enviar email e redigir ou editar textos (ordem decrescente de frequência). Os motivos mais comuns que levam estes usuários a usar computadores (tanto na biblioteca como fora dela) são realizar ações relacionadas a educação (todos) , manter comunicação com familiares e amigos (11), bem como desenvolver competências necessárias para conseguir trabalho ou progredir profissionalmente (10). Interessante notar como o ambiente e a conexão wifi são, para este grupo, bem mais importantes do que o acervo oferecido pela biblioteca.
A maior parte dos integrantes deste grupo (9 ) possui entre 20 e 34 anos . Cinco usuários do grupo já completaram curso superior e outros 7 completaram o ensino médio, sendo apenas um entre os 13 usuários deste grupo possuía apenas o fundamental completo.
3 Usuários abordados em trânsito pela biblioteca Onze usuários foram entrevistados enquanto transitavam pela biblioteca. Para este grupo o serviço da biblioteca mais utilizado é o empréstimo de livros, seguido por uso de computadores e internet e pela busca de orientação junto a equipe da biblioteca . Entre eles 7 utilizam tecnologia na biblioteca e 4 não.
Entre estes 7 usuários os motivos pelos quais escolheram a biblioteca para usar tecnologia no dia da entrevista foram o horário de funcionamento conveniente, fica perto de casa ou de onde eles estava no momento que precisava ou desejava usar tecnologia e ainda por que o lugar é acolhedor e seguro.
Em relação a busca de informações em geral em suas vidas, estes usuários buscam prioritariamente na TV e Internet seguidos por livro e jornais. Dentro da biblioteca pública estes usuários buscam informações na maioria das vezes na internet ou livros (8) seguido por revistas, documentos e enciclopédias e jornais.
Nove entre onze usuários deste grupo possui computador sendo que 6 usuários possuem laptop, 5 desktops, 4 celulares tipo smart phone e 2 possuem tablets. Entre eles apenas 2 possuem conexão banda larga para internet em suas residências, 3 usam conexão 3G e 4 costumam frequentar pontos públicos com acesso a Internet wifi (bibliotecas, telecentros ou cibercafés ou lanhouses).
Quando usa computadores ( em qualquer local) este grupo costuma desenvolver atividades relacionadas a educação, desenvolver competência para conseguir trabalho ou progredir profissionalmente seguido por desenvolver atividades de lazer ou hobby.
Este grupo de usuários pertence a uma faixa etária variada sendo seis deles na faixa etária entre 25 e 49 anos e 4 com menos de 25 anos . Dois deles já completaram curso superior e outros 6 completaram o ensino médio.